sexta-feira, 30 de abril de 2010

Kite Runner (O Menino de Cabul)



A necessidade de pertença está profundamente enraizada na espécie humana. Somos, por natureza, indivíduos sociais. Como espécie abominamos a solidão e tudo o que ela representa, causa desconforto e apreensão. É difícil estar só. É particularmente complicado viver só porque, na essência, isso significa que não fazemos parte de coisa nenhuma, nem temos, virtualmente, qualquer utilidade para os outros.
Por outro lado, é importante estar só. É fundamental saber conviver bem com a solidão. Se fazer parte de um grupo nos permite sentir que fazemos parte de uma espécie de rede de suporte mútuo da qual podemos depender e para a qual podemos contribuir, estar à vontade com a solidão impede-nos de ter pensamentos e estilos de vida particularmente destrutivos.

O Menino de Cabul é sobre amizade. Uma amizade pintada de cores de papagaio de papel. Uma amizade que, de uma forma hábil, metaforiza historicamente os acontecimentos no Afeganistão antes e após a invasão soviética.
Baseado no romance de Khaled Hosseini e com o título original de “Kite Runner” (O Lançador de Papagaios), este filme relata a história de dois amigos de classes sociais muito diferentes, Amir e Hassan, unidos pela paixão dos papagaios de papel e separados por um acontecimento fatídico.
Quando, anos mais tarde, Amir, agora residente nos Estados Unidos da América recebe um telefonema que o faz voltar à sua pátria, inicia uma aventura que o irá fazer recordar-se do amigo e equilibrar toda a devoção que este havia tido para com ele.
Numa pátria que não reconhece, no seio de uma guerra civil patenteada por um regime opressor, Amir sente profundamente que também não é reconhecido. Está num país que não o acolhe como um dos seus e sim como um estrangeiro invasor e ocidentalizado. Compreende que o cantinho do mundo ao qual pertencia já não existe. Pela primeira vez tem que lidar com o facto de estar sozinho com uma missão.

Este filme/livro respira Afeganistão. É um pedido de ajuda para uma nação que sentiu directamente e de forma pesada as consequências dos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. É também um hino à amizade. Um poema à gratidão.

Este conto é para todos, mas em especial para os que lançam papagaios de papel. Aqueles que olham para o alto e descobrem sonhos sem nunca perder o fio que os liga ao solo. Que, em vez de lutar contra o vento, utilizam-no para construir um rumo.
É sobretudo para os que todos os dias constroem um mundo que acolhe e faz com que nos sintamos parte dele.

Estar só é bom, mas não dá para lançar papagaios.